Confesso que tiro o meu chapéu a quem faz (boa) tradução de humor. Tirando a tradução de poesia, teatro e outros géneros literários, não deve haver subgénero em que a tensão latente entre o original e o texto traduzido seja tão presente e, ao mesmo tempo, tão intensa, algures no limiar do intraduzível. Para além dessa fronteira ténue que separa duas (ou mais) realidades tão distintas e, no entanto, tão próximas, para além dessa linha tensa que segura o texto por entre jogos de sentido, por entre o dito, o não-dito e o entre-dito, há um novo corpo dinâmico e funcional que ganha forma e contornos outros, fruto de um combate simultaneamente feroz e dócil, espécie de luta corpo-a-corpo, onde as perdas e ganhos, as equivalências, adaptações e compensações mais não são do que instrumentos ao serviço desse milagre perpétuo e sublime da transformação, metamorfose e regeneração textual.
Ao sabor dos trocadilhos, implícitos, referências culturais, intertextos, alusões, metáforas e subentendidos, há algo que, ainda assim, se destaca na tradução de humor: o direito inalienável de rir e fazer rir com inteligência, esse exercício de cidadania tão arredado do nosso quotidiano, que é o sentido de humor fino e puro, essa saudável capacidade de rir e sorrir de nós, connosco e com os outros, experiência terapêutica e catártica de partilha onde a tríade autor-tradutor-leitor se une e comunga de um mesmo desígnio comum e intemporal.
Não falando dos incontornáveis Monty Python, Seinfelds e respectivos spinoffs, gostaria de destacar 2 das séries que me têm feito companhia por entre mudas de fraldas e biberões, madrugada adentro, lá pela calada da noite: Little Britain e Smith & Jones
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