(...) Quando penso no processo e no acto de tradução, utilizo muitas vezes a metáfora geológica da tectónica de placas, para descrever o tipo de acções e transformações que o processo de tradução opera na camada e estrutura do texto. Em termos geológicos, uma placa é um segmento rígido da crosta terrestre constituído por rocha sólida. A palavra tectónica encontra a sua raiz no grego como o equivalente vernacular do significado do verbo construir. Juntando estas duas palavras obtemos a designação de "tectónica de placas", que se refere à ideia de que a superfície da Terra é construída por placas. Assim, numa perspectiva simplificada, podemos considerar que a teoria da tectónica de placas sustenta que a camada mais exterior da Terra, a crosta, se encontra fragmentada em placas de diferentes dimensões, que se movem umas em relação às outras ao deslizar sobre material mais quente e móvel do interior da Terra.
Se, entretanto, transpusermos esta nomenclatura para o nível textual, a questão da fragmentação permite entender o texto como algo dinâmico e móvel e compreender a forma como os processos de tradução ocorrem, tornando-se clara a noção de que toda a superfície do texto se encontra em contínua mutação e, tal como o movimento dos continentes, o tradutor é confrontado com um texto à deriva, repleto de cristas, depressões e falhas transformantes, fruto desse movimento convergente e divergente de placas. Tal como a superfície terrestre, a superfície do texto encontra-se, por isso, fragmentada em enormes placas - placas litosféricas - cuja posição e tamanho variam ao longo dos tempos. As extremidades destas placas, devido à interacção que se estabelece entre as mesmas, constituem locais de intensa actividade geológica, sobretudo sísmica e vulcânica.
Continuando com a metáfora geológica, é um dado adquirido que, durante o processo de tradução, o texto resiste, espera, adia a revelação do seu sentido. Tal como toda a prática artística ou científica há sempre uma rejeição, retracção, repulsa e resistência iniciais que é necessário e urgente ultrapassar. Porém, depois de ultrapassar essas barreiras, de transpor essa dimensão outra em que o texto se revela, é possível aceder ao que de mais íntimo nele corre, vencendo a resistência, limando arestas, burilando conceitos, depurando, partindo pedra, escavando, mergulhando no magma orgânico e, qual geólogo, proceder ao exame desses níveis, subníveis, estratos, subestratos ocultos e, ao mesmo tempo, interpretar esses marcos de sinalização dispostos ao longo do percurso, classificando, rotulando, analisando, desvelando sentidos, formas e conteúdos, detectando, lendo e medindo intensidades e interpretando os abalos sísmicos. Descodificando e aferindo os graus de tensão e distensão, o impacto da deformação do texto, a sua expansão ou contracção, dilatação ou redução, as suas rachas, os seus ecos, reverberações e sombras, como se de um sismólogo se tratasse, nessa busca incessante de uma transcendência imanente.
Por isso, também o acto de traduzir pode ser encarado como um abalo telúrico que produz inevitavelmente uma multiplicidade de fendas e fissuras na camada do texto e que, tal como num jogo de intensidades, divisões, tensões, avanços e recuos, cada elemento, micro ou macro textual luta por alcançar um ascendente ou protagonismo sobre os restantes, reflectindo-se nas inevitáveis e permanentes mudanças na tectónica do texto, afinal as diferentes manifestações da tradução inscritas no mapa do texto (...)
Se, entretanto, transpusermos esta nomenclatura para o nível textual, a questão da fragmentação permite entender o texto como algo dinâmico e móvel e compreender a forma como os processos de tradução ocorrem, tornando-se clara a noção de que toda a superfície do texto se encontra em contínua mutação e, tal como o movimento dos continentes, o tradutor é confrontado com um texto à deriva, repleto de cristas, depressões e falhas transformantes, fruto desse movimento convergente e divergente de placas. Tal como a superfície terrestre, a superfície do texto encontra-se, por isso, fragmentada em enormes placas - placas litosféricas - cuja posição e tamanho variam ao longo dos tempos. As extremidades destas placas, devido à interacção que se estabelece entre as mesmas, constituem locais de intensa actividade geológica, sobretudo sísmica e vulcânica.
Continuando com a metáfora geológica, é um dado adquirido que, durante o processo de tradução, o texto resiste, espera, adia a revelação do seu sentido. Tal como toda a prática artística ou científica há sempre uma rejeição, retracção, repulsa e resistência iniciais que é necessário e urgente ultrapassar. Porém, depois de ultrapassar essas barreiras, de transpor essa dimensão outra em que o texto se revela, é possível aceder ao que de mais íntimo nele corre, vencendo a resistência, limando arestas, burilando conceitos, depurando, partindo pedra, escavando, mergulhando no magma orgânico e, qual geólogo, proceder ao exame desses níveis, subníveis, estratos, subestratos ocultos e, ao mesmo tempo, interpretar esses marcos de sinalização dispostos ao longo do percurso, classificando, rotulando, analisando, desvelando sentidos, formas e conteúdos, detectando, lendo e medindo intensidades e interpretando os abalos sísmicos. Descodificando e aferindo os graus de tensão e distensão, o impacto da deformação do texto, a sua expansão ou contracção, dilatação ou redução, as suas rachas, os seus ecos, reverberações e sombras, como se de um sismólogo se tratasse, nessa busca incessante de uma transcendência imanente.
Por isso, também o acto de traduzir pode ser encarado como um abalo telúrico que produz inevitavelmente uma multiplicidade de fendas e fissuras na camada do texto e que, tal como num jogo de intensidades, divisões, tensões, avanços e recuos, cada elemento, micro ou macro textual luta por alcançar um ascendente ou protagonismo sobre os restantes, reflectindo-se nas inevitáveis e permanentes mudanças na tectónica do texto, afinal as diferentes manifestações da tradução inscritas no mapa do texto (...)
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