Monday, January 28, 2008

Torga pelo Sindicato de Poesia




TORGA PELA VOZ DO SINDICATO DE POESIA



Correspondendo generosamente, como vem sendo hábito, a mais um desafio da Biblioteca Pública de Braga (UNIVERSIDADE DO MINHO), o Sindicato de Poesia vai realizar no próximo dia 31 de Janeiro um recital intitulado O chão e o verbo, dedicado a Miguel Torga.

Os textos serão ditos por António Durães, Ana Gabriela Macedo, Fernando Coelho, Gaspar Machado, Manuela Martinez e Marta Catarina, sob o olhar do actor-sindicalista António Durães.

O recital O chão e o verbo, é de algum modo, inspirado por um excerto do «Diário VIII» de Miguel Torga:



Comer terra é uma prática velha do Homem. Antes que ela o mastigue, vai-a mastigando ele. O mal, no meu caso particular, é que exagero. Empanturro-me de horizontes e de montanhas, e quase que me sinto depois uma província suplementar de Portugal.



Os textos foram seleccionados pelo Doutor Carlos Mendes de Sousa, comissário da Exposição Comemorativa do Centenário do Nascimento de Miguel Torga (1907-1995), organizada pela Direcção Regional de Cultura do Norte com o patrocínio da DST, que a Biblioteca Pública de Braga vem apresentando no Salão Medieval até 8 de Fevereiro e em cuja programação se insere o recital do Sindicato de Poesia.

O recital realiza-se no Salão Medieval (Largo do Paço, Braga) na próxima quinta feira, dia 31 de Janeiro, às 21:45 horas, com entrada livre.

Saturday, January 26, 2008

Manual de instruções para intérpretes (mais ou menos banais)

Às vezes, gostava de ser assim...

Dedo de tradutor(a)

O blogue O Regabofe tem dedo e perfume de tradutor(a). Nota-se que anda por ali algo... não sei o quê, ao certo, mas que há qualquer coisa, há. E, para além disso, gostam de ténis, o que me agrada.
Ali, li um post interessante e também enigmático (pelo menos para mim, que sei o quão árduo e extenuante é traduzir, quando dou tudo de mim e quando me esgoto, esvazio e metamorfoseio, ante essa ânsia sublime e sisífica de alcançar uma comunhão efémera com uma alteridade tão (in)intelegível):

Tradução optimista
"A coisa espectacular é a coisa passível de uma tradução espectacular. Há coisas que projectam de modo fraco o que possivelmente devemos tornar forte, sobretudo se formos pessoas espectaculares, isto é, não mais do que coisas susceptíveis de uma tradução espectacular. Em última análise, vivamos como vivermos, só a tradução é o caminho do que está em andamento."

Tuesday, January 22, 2008

La Palissadas...

Olha-me que grande novidade... (extraído do Portefólio Digital do Kelson)

Mas por que é que, por cá, ainda ninguém percebeu o óbvio da questão?

Uma pequena grande equação para resolver nas horas vagas:

Texto = Línguas = Tradução = Serviço = Processo = Produto = Qualidade = Profissionalismo = Eficácia comunicacional = Vendas = Retorno = Satisfação do cliente (e fecha-se o ciclo, and so on, and so on, e viveram felizes para sempre...)

Saturday, January 19, 2008

Em defesa das Humanidades

Aconteceu em Itália onde, no último Concurso para Juíz, 90% do/as Candidato/as foram "chumbado/as" nas provas escritas porque repletas de erros de ortografia, sintaxe e gramática (os meus agradecimentos à Elena, pelo link).

Como disse o João, e bem, "numa altura em que as disciplinas humanísticas se tornaram rasuráveis dos curricula universitários e com o puro analfabetismo que trespassa o sistema de ensino de ensino português, em todos os seus níveis, é altura das disciplinas da área das humanidades (o português, o latim e o grego, a filosofia, a história, as línguas estrangeiras, etc.) readquirirem a dignidade e o respeito que merecem."

Wednesday, January 16, 2008

Versões/Traduções

Na música, como na tradução da palavra escrita, as versões são também elas processos complexos de equivalência dinâmica e funcional, resultantes desse misto de alquimia e transmutação através do qual o objecto é adaptado a uma outra realidade/ecossistema cultural e referencial.
Neste caso, no entanto, o original é insubstituível, quiçá intraduzível. Fica, mesmo assim, o singelo exercício diletante de estilo.

A versão

O original

You Are Welcome To Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós

e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


Mário Cesariny de Vasconcelos (1957)


A tradução de Richard Zenith está disponível aqui.

Art imitates life (ou vice-versa?)

O estranho caso da versão (cover) cool-hip-swing que arrasa o original (Mr. Mark Ronson and Dame Winehouse não param de nos surpreender com o seu talento).

O original


E afinal havia outra...

Monday, January 14, 2008

Electricidade ultrasónica

Digo e repito. Os Yo La Tengo, do casal Ira Kaplan e Georgia Hubley + Dave Schramm e James McNew, são um dos grupos mais injustiçados de sempre. Andam nisto há muitos anos, sempre com um proverbial e salutar "low profile underground" e alternativo.
Cumpro aqui a minha homenagem, aproveitando a boleia de um dos meus ídolos do jogo da raquete e bola, em estilo "talk-show".

Sunday, January 13, 2008

I was here - ESDJGFA (ex-ESV)

Vivi aqui, estudei aqui, nos idos de 80.
A escola ainda respira. Novas gerações, novos projectos, o mesmo espírito, as mesmas paredes, histórias ímpares, impartilháveis e únicas.
A memória fica e alimenta-se de imagens como esta.

Play Misty for me

Um dos grandes filmes de Clint Eastwood e, certamente, um tema belíssimo, aqui em duas versões, respectivamente de Ella Fitzgerald e Sara Vaughan.







P.S. Prometo voltar um dia a este filme.

Saturday, January 12, 2008

Apanhado!

Nem os intérpretes escapam à câmara indiscreta.

Wednesday, January 09, 2008

Traddutora, Traditora?



O trabalho de tradução/interpretação ultrapassa o simples entendimento e transposição da palavra e da gramática de uma língua para a outra. Neste sentido, o tradutor/intérprete assume-se como um verdadeiro intermediário social, político e cultural, um ser dividido entre tempos, momentos e espaços, capaz de estabelecer a ligação entre mundos e culturas, elemento centralizador e catalisador desse encontro plural com o outro através da palavra. Neste processo de encontro e abertura protagonizado pelo Novo Mundo, tantas vezes caracterizado pela mestiçagem e miscigenação racial, cultural e linguística, é-nos apresentado um novo paradigma da abertura ao multiculturalismo.

Talvez o mais fascinante e influente intermediário do século XVI tenha sido, não um europeu, nem um homem, mas antes uma nativa indígena, mais concretamente Doña Marina ou a La Malinche, como ficou conhecida, a intérprete de Cortez durante a conquista do México.

É assim que nasce a figura e cresce o mito em torno de Doña Marina, simultaneamente, uma figura na margem e no centro, periférica e central, proscrita, traidora e cortesã, amante e intérprete de Cortez, porque ela era, afinal, a figura através da qual passava toda a comunicação entre os aztecas e os espanhóis

Simbolizando o hibridismo e a mestiçagem, elemento de ligação entre dois mundos em conflito e criando, ao mesmo tempo, um outro mundo à parte, La Malinche, Malintzin ou La Chingada funciona como figura de destaque no lugar ocupado pela língua e retórica e peça-chave daquilo a que muitos chamam de“máquina de propaganda representacional europeia”, personificando o vastíssimo processo de tradução cultural iniciado pelos Descobrimentos.


P.S. Agradeço, a propósito, as simpáticas palavras do colega Adelto Gonçalves que teve a gentileza do ler e comentar, no site Verdes Trigos, o meu texto “Traddutora,Traditora? Tradução, mestiçagem e multiculturalismo no feminino”.

Sunday, January 06, 2008

Uma nova forma de servidão?

Apresento-vos o tradutor... um dos novos servos da aldeia global, espécie de "faz-tudo" globetrotter, multifunções, nessa nova glebe da era moderna, digital, pós-moderna, pós-tudo-e-mais-qualquer-coisa

"The translator has become the quintessential servant: efficient, punctual, hardworking, silent and yes, invisible." (Daniel Simeoni, 1998)

Ética em tradução

Para mim, a ética é, a par dos princípios, valores e educação, a mãe de todas as virtudes, o princípio moralmente sustentador e alicerce basilar do indivíduo, enquanto ser envolvido numa rede de relações dinâmicas, socialmente enquadradas, e a base de qualquer relacionamento laboral profissionalmente sustentado (e sustentável).
Infelizmente, (e sem falsos moralismos ou demagogia barata) é essa mesma ética que, hoje, parece cada vez mais arredada das nossas vidas (e falo por experiência própria), em termos pessoais e, sobretudo, profissionais (voltarei a isto mais tarde, se o tempo assim o permitir).
Apenas a título de exemplo, em termos pessoais, e enquanto formador de futuros profissionais (?) de tradução, a ética é dos tópicos que mais dificuldade tenho em ensinar, transmitir ou partilhar, sem cair num tipo de discurso estereotipado, vazio e moralmente bacoco (ou oco, cheio de lugares-comuns e verdades de La Palisse), precisamente pelo seu carácter quase (sublinho, "quase") "in-ensinável". Ou seja, a ética, à partida, é algo que não se pode ensinar de ânimo leve, sobretudo se não houver uma abertura e predisposição da parte dos nossos interlocutores para aprenderem com as experiências de quem, muito antes, trilhou os mesmo caminhos e com eles aprendeu algo, crescendo como indivíduo, ética e moralmente coerente. Aprende-se, é claro, com a abertura ao "outro", com a partilha de realidades e saberes resultantes das experiências profissionais mais díspares e, acima de tudo, com os erros do dia-a-dia, que nos levam a crescer e a amadurecer um pouco mais, isto é, quando vencemos os obstáculos com que nos deparamos constantemente em contexto de interacção social.
Nestes tempos onde a ganância e a arrogância imperam, onde a altivez e, por que não, a estupidez vigoram, onde a lógica implacável do consumo e da competitividade assolam o nosso quotidiano, onde o vício e a falta de princípios corroem o tecido social, e onde a concorrência desleal e a ausência de valores fazem com que os fins justifiquem os meios, admito, com algum pessimismo, que seja difícil para muitos jovens (e não jovens) compreender o que é, afinal, adquirir e aplicar à sua prática profissional um comportamento etica e deontologicamente equilibrado.

Entretanto, para nos entretermos um pouco, deixo-vos este link para um texto de Roger Chriss onde é aflorada a questão da ética, essencialmente associada ao profissionalismo. No entanto, e infelizmente, o autor não deixa de cair naquela espécie de discurso de que falei acima, ou seja, vazio e moralmente pretensioso, fruto de uma repetição estafada de lugares-comuns que apenas afloram, ao de leve e de passagem, uma realidade bem mais complexa e impenetrável.

Saturday, January 05, 2008

E por falar em pintura (O Soberano)

Confesso que ninguém me encomendou este discurso laudatório, mas o que tem qualidade, deve ser apreciado, visto, lido e ouvido, ou comentado.
Tenho seguido de perto a carreira desta nossa amiga. Por acaso, lá em casa, até há umas quantas paredes e prateleiras com quadros dela. Este, por exemplo, falta na colecção....
Mas vale a pena ver e ouvir (Satie incluído) o que a Carla Gonçalves tem para nos mostrar... (pelo sim, pelo não, o link já está aqui ao lado).
E, já agora, por que não visitar uma exposição numa galeria perto de si?


Thursday, January 03, 2008

O Porto no olhar


Casario da Sé do Porto (1945)



António Cruz, aguarelista (1907-1983)

Os Dias de Glória (de Francisco José Viegas)

OS DIAS DE GLÓRIA
Envelheces tanto de cada vez que o dia termina
e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,
das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo
do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos
que foram belos – e não são mais. Envelheces muito
quando o mundo contraria as pequenas coisas,
sentes esse cansaço, nada a fazer.
Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais
colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela
sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias,
armadilhas, mas tu sabes – e só tu sabes –
que a tua vida é a tua vida e que o poema
é empurrado por outro sopro, por um reflexo,
um medo brutal, pela memória dos que morreram
e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia
de comum entre ti e a vida, esse desperdício – às vezes –,
esses momentos de glória em dias felizes.
Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces
sem querer. Por ti serias eternamente jovem, adolescente,
e percorrerias as estradas das serras, as florestas,
não para viveres sempre, mas para estares vivo
mais um instante, porque o espectáculo é belo
uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco,
porque as coisas não são o que foram nem são o que são.

Francisco José Viegas
in http://origemdasespecies.blogspot.com/

Le kitsch supreme




E por falar nela. Um bilhete de ida e volta ao Inferno das nossas cidades em aviõezinhos de papel e tudo, tipo "East meets West" (via "Straight to Hell" dos Clash), num tutti-fruti rap multicultural, bem misturado numa batida potente, cremosa e altamente viciante.

Os Inrockuptíveis









Em tempo de balanço do ano que passou, a très French Les Inrocks, diminutivo afectuoso da revista alternativa Les Inrockuptibles, publicou os seus 10 +, juntamente com um CD, a saber:



1. 'Sound of Silver' LCD Soundsystem
2. '† (Cross)' Justice
3. 'Sologne/Loney, Noir' Loney, Dear
4. 'Strawberry Jam' Animal Collective
5. 'Myths of the Near Future' Klaxons
6. 'Graduation' Kanye West
7. 'White Chalk' PJ Harvey
8. 'Close to Paradise' Patrick Watson
9. 'The Pirate's Gospel' Alela Diane
10. 'Kala' M.I.A.

P.S. Para além de algumas opções discutíveis e politicamente correctas, destaque-se a vitalidade de PJ Harvey, as opções dançantes dos LCD Soundsystem, o super-pop dos Klaxons e a surpresa kitch "galáctico-étnico-caleidoscópico-efervescente" de M.I.A.

Wednesday, January 02, 2008

Vozes do deserto




Directamente do Mali, terra de raízes sólidas, tradições ancestrais e ritmos encantatórios as vozes dos homens azuis do deserto encantam e chamam por nós.

Rendam-se ao som hipnótico dos tuaregues Tinariwen

Sítio oficial em http://www.tinariwen.com/

Profissão de risco

E, no entanto, eles também sofrem...
Ultimamente, são vários os casos de tradutores, mortos, feridos, usados como reféns, como escudo ou simplesmente como moeda de troca... (basta olhar para os episódios verificados nos inúmeros teatros de guerra e conflito onde os tradutores, tantas vezes esquecidos, acabam por ter um papel preponderante). E, no entanto, sempre e teimosamente invisíveis...
No fundo, vítimas das circunstâncias profissionais que os empurram para o perigo (ou talvez não), erros e acaso do destino, danos colaterais, acidentes de percurso, enfim...
Tudo no exercício da sua profissão, por uma causa, por causas, por princípios, ou apenas alvos do acaso e de um destino que os coloca no lado errado da fronteira.
Por isso, vem-me à memória o episódio do tradutor de Rushdie, esfaqueado há uns anos atrás por um fanático, num episódio grotesco decretado pela "fatwa", e aqui abordado.
E, proporções e distâncias à parte, lembro-me daquele dia, nos idos de 90, em que um ex-PIDE me entra pelo escritório dentro, e ameaça com uma arma de fogo, pedindo-me "humildemente" que falsificasse uns documentozinhos a apresentar e certificar no notário, e com os quais se poderia habilitar a uma choruda herança e outras benesses familiares.