Há, no processo de tradução tout court, uma constante dicotomia entre vida e morte, uma espécie de tensão e ambivalência latentes entre morte e ressureição / morte e transmutação.
“A tradução mata o original” é, de facto, um lugar-comum frequentemente escutado. De igual forma, a tradução é comummente associada à transfusão/transmutação, bem como à tentativa de captar esse “afterlife”, momento “pós-vida” ou estado “post-morten” do texto.
Por outro lado, a tradução parece igualmente envolver uma espécie de experiência de desintegração, estilhaçamento ou e dilaceramento, tal como equacionava Charles Tomlinson.
É frequente afirmar-se que as traduções matam o original, embora, muitas vezes, essa morte sirva apenas para revelar que, afinal, o original já estaria morto e que, de certa forma, é apropriado para outos fins, outras causas.
Dentro desta perspectiva tanatológica associada à prática da tradução, será possível, como defende Rosanna Warren, definir tradução como uma ausência, resquício que fica desse pós-vida, logo "an afterlife", espécie de exame ou relatório médico-legal através do qual o texto-corpo é declarado morto, se certifica o óbito, autopsia o cadáver e, ao mesmo tempo, é revelada a causa da sua morte.
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