Friday, December 22, 2006

Kit de sobrevivência para tradutores e afins

Bem sei que tenho andado arredado destas andanças. O tempo tem sido escasso e as solicitações mais que muitas.
Entretanto, não queria deixar de partilhar convosco este kit de sobrevivência que me foi sugerido por mãos amigas e que não deixa de ser uma abordagem curiosa ao mundo da tradução. O documento em pdf pode ser acedido a partir do RepositoriUM da Universidade do Minho ou em

http://hdl.handle.net/1822/5890

Friday, July 28, 2006

Posta restante

O que eu li (e aprovei) na rede:
Blogue "DaLiteratura"

Estratagema de Schopenhauer (1788-1860) adequado aos tempos que correm:

A contradição e a altercação levam ao exagero nas afirmações. Contradizendo o oponente, podemos levá-lo a estender além dos seus limites uma afirmação que, entre os limites devidos e em si mesma, seja verdadeira; e logo que refutemos tal exagero, parecerá que refutámos igualmente a alegação original. Ao invés, devemos guardar-nos de, levados pela contradição, exagerarmos ou alargarmos as nossas alegações. Sucederá muitas vezes que o oponente tente directamente dar às nossas afirmações um sentido mais vasto do que o que lhe déramos: deve-se pôr termo a isto de imediato, e reconduzi-lo aos limites que estabelecêramos com um «Eis o que eu disse, e nada mais».

Estratagema n.º 23 [cf. A Arte de Ter Sempre Razão, Lisboa: Frenesi, 2006, trad. Jorge P. Pires].

Wednesday, July 26, 2006

Saudosismo dos anos 80

Para os amigos de Alex dos idos de 80, uma interminável lista dos telediscos que encantaram a nossa geração:

http://www.worksafevideos.com/

Friday, July 14, 2006

Recursos online para tradutores I

Com as devidas ressalvas em termos autorais e a remissão para o site respectivo, aqui vão alguns recursos online para tradutores (ou para quem se interessa por estas coisas)
A autoria e comentários pertencem a Daniel Gile da EST e o site para consulta encontra-se em http://www.est-translationstudies.org/


Online journals with free access and other online resources

There is an increasing number of such online periodicals of various types. Some of them offer excellent papers.
Please visit them regularly. Some offer free access to their content for a limited time.

Cadernos de Tradução. An online journal of the Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil, www.cadernos.ufsc.br

Círculo, revista electrónica de lingüística aplicada a la comunicación (clac). This Complutense University’s online journal of linguistics focuses on communication linguistics, www.ucm.es/info/circulo

Communicate. The AIIC webzine, with papers on conference interpreting, mostly on professional issues, some on research and training, www.aiic.net/Viewissues.cfm

Conference Interpretation and Translation. The Journal of the Korean Society of Conference Interpretation. Papers on translation and interpreting. Back issues can be downloaded. See the website of the Korean Society of Conference Interpretation at www.ksci.or.kr

Confluências - Revista de Traduçâo Cientifica e Técnica. A new online scientific and technical translation journal, mostly in Portuguese, www.confluencias.net

Forum. A journal edited jointly by Marianne Lederer, of ESIT (Paris) and Choi Jungwha (GSIT, HUFS, Seoul). Back issues can be downloaded. See the website of the Korean Society of
Conference Interpretation at www.ksci.or.kr

Helsinki English Studies - University of Helsinki. Full papers. www.eng.helsinki.f/hes/Translation

Iatis Bulletin – a free quarterly e-zine with new from the world of TS at www.iatis.org/content/pubs/bulletin/archive.php Interesting, with up-to-date information.

Intralinea. An online journal of the University of Bologna. Offers articles on translation and interpreting, mostly in Italian, but also in other languages, www.intralinea.it

Journal of Translation. Online, peer-reviewed, addresses both theoretical and practical issues. It is published by SIL International (formerly the Summer Institute of Linguistics) and often addresses Bible-translation issues, but the analyses in many of its papers are of interest to the wider TS community. www.sil.org:8090/siljot/index.html

The Journal of Specialised Translation. Dynamic online journal, www.jostrans.org . Its coverage is wider than its title indicates. Also contains audio-visual interviews.

Mediazoni – An online journal of interdisciplinary studies on language and culture http://www.mediazionionline.it/english/articoli/index_english.htm

Meta. The well-known Canadian Translation journal. www.erudit.org/revue/Meta

New Voices in Translation Studies. This is a refereed electronic journal co-sponsored by the International Association for Translation and Intercultural Studies (IATIS) and the Centre for Translation and Textual Studies (CTTS) at Dublin City University. The aim of the journal is to disseminate high quality original work by young researchers in Translation Studies to a wide audience. www.iatis.org/newvoices

Perspectives. Not an online journal, but a full list of papers published in its issues is available, as well as abstracts of papers published since the second issue in the year 2000, www.skase.sk

Translatio – Newsletter of FIT. Professional rather than TS. www.fit-ift.org

Translation Journal. Sponsored site, mostly papers on professional issue, www.accurapid.com/journal

Translation Today. An Indian online translation journal, part of the site www.anukriti.net . This biannual English-language journal of the Central Institute of Indian Languages, Manasagangotri, Mysore, was started in March 2004 and has appeared twice so far (March 2005). In its first two issues, Indian authors tend to focus on general cultural and philosophical issues, most often in the context of Indian culture and languages. There is little about practical issues, no empirical studies, nothing about interpreting so far. Foreign citations are mostly those of philosophers and of some translation scholars of the “cultural turn” trend. Obviously interesting for TS scholars interested in Indian culture. In view of the well-established history of valuable Indian contributions to intellectual endeavours of all kinds, including the more practical and empirical-science oriented disciplines, this journal could be a good portal for interaction with Indian scholars in other branches of TS and an opportunity for cross-fertilization.

Transst – Gideon Toury’s publication, with useful information on new publications and news on upcoming conferences. www.tau.ac.il/~toury

Tuesday, July 11, 2006

Que é feito deles?

Alguém sabe o que é feito deles? Onde estão? E por que desapareceram das capas dos livros?
O que sou hoje deve-se, em parte, ao excelente trabalho destes profissionais.
Uma singela homenagem ao "tradutor desconhecido", a seguir dentro de momentos.

Maria da Graça de Moctezuma
Almeida Campos
F. J. Cardoso Júnior
Maria Amélia Bárcia
Maria Antónia Correia Leal
Luís Milheiro
Mascarenhas Barreto
Maria Fernanda de Brito
Ana Maria Mariz Rozeira
Arnaldo Mariz Rozeira
Madalena de Castro
Pedro Vidoeira
Maria Fernanda Cidrais
Maria Isabel Braga
Nuno Vitorino
José António Machado
Virgínia de Castro e Almeida
Henrique de Macedo
Virgínia Motta
Adolfo Simões Müller
Maria das Mercês de Mendonça Soares
Maria Isabel Morna Braga
Maria Isabel Moura Braga
Ana Margarida Salvado de Carvalho
Regina Sales
Elisa Matos
João Abrunhosa e Sousa
Artur Parreira
Raul Correia
Feijoo Teixeira
José de Nel-Castro
Aureliano Sampaio
Rui Damião
Isaura Correia dos Santos
Manuel Rosas da Silva
Maria Luís
Mário Braga
Alexandre Pinheiro Torres
Maria Adelaide Couto Viana
Manuela Ferreira de Almeida
Joaquina Maria S. Marques Cadete
Rui Viana Pereira
Ricardo Alberty
Nídia de Sousa Ruivo
Maria Guerne
Francisco Malta
Ana Maria Coelho de Sousa

Sunday, July 02, 2006

Traduzir Astérix: Alguns problemas de tradução

Já há muito tempo que andava atrás deste curioso artigo sobre os problemas e desafios colocados pela tradução do Astérix.

O artigo, da autoria de Anthea Bell, pode ser encontrado no site do British Council - Arts - Literary Translation, ou em

http://www.literarytranslation.com/usr/downloads/workshops/asterix.pdf

A vida secreta dos tradutores

Quem somos? O que somos? O que fazemos? De onde vimos? Para onde vamos?

Contributos para o (re)enquadramento de uma profissão. Ou a nossa demanda do Santo Graal...

"The Hidden Life of Translators - The quest for the roots of quality" da autoria de Bill Fraser e Helen Titchen Beeth (Serviço de Traduçãoe, Comissão Europeia)

http://ec.europa.eu/comm/translation/reading/articles/pdf/2001_hidden_life_of_translators.pdf

Thursday, June 29, 2006

H2Homem

Directamente dos meus amigos Banana Killers, para refrescar

http://communityvideo.aol.com/Playback.do?AssetID=189f3c9f1510cf5512e358ef9af2a0&pid=CVN&type=ANY&sort=NUMCOMMENTS&index=4&page=10


A música até podia ser a dita dos Clã.

As suspeitas (piadas) do costume...

Correndo o risco de parecer o Fernando Rocha, aqui vão umas chalaças.
Sei que algumas delas já têm barbas, mas é sempre divertido. Junta-se o útil ao agradável.
E, para além disso, aprende-se muito com estas "gaffes". Um óptimo exercício de crítica de tradução para as nossas aulas:


Paris hotel elevator
Please leave your values at the front desk

Tokyo hotel
It is forbidden to steal hotel towels please. If you are not a person to do such a thing is please not read this notice

Bucharest hotel
The list is being fixed for the next day. During this time you will be unbearable

Leipzig elevator
Do not enter the lift backwards, and only when lit up

Belgrade elevator
To move the cabin, push button for wishing floor. If the cabin should enter more persons, each one should press a number of wishing floor. Driving then going alphabetically in national order.

Athens hotel
Visitors are expected to complain at the office between the hours of 9 and 11am daily

Sarajevo hotel
The flattening of underwear with pleasure is the job of the chambermaid

Japanese hotel
You are invited to take advantage of the chambermaid

Moscow hotel
You are welcome to visit the cemetery where famous Russian and Soviet composers, artists and writers are buried daily except Thursday

Swiss menu
Our wines leave you nothing to hope for

Hong Kong tailors shop
Ladies may have a fit upstairs

Bangkok dry cleaners
Drop your trousers here for best results

Paris dress shop
Dresses for street walking

Rhodes tailor shop
Order your summer suit. Because is big rush we will execute customers in strict rotation

Hong Kong advert
Teeth extracted by the latest methodists

Rome laundry
Ladies, leave your clothes here and spend the afternoon having a good time

Swiss mountain inn
Special today... no ice cream

Copenhagen airline
We take your bags and send them in all directions

Moscow hotel
If this is your first visit to the USSR, you are welcome to it

Norwegian lounge
Ladies are requested not to have children in the bar

Tokyo shop
Our nylons cost more than common but they are better for the long run

Acapulco hotel
The manager has personally passed all the water served here

Tuesday, June 27, 2006

Ai que esta não me sai da cabeça!!






Pois é, esta música não me sai da cabeça.

"A Dança da Moda", verdadeiro arsenal pop, reza mais ou menos assim:

Essa moda é nova/Que vem de Sergipe/Sapato americano, cabelo a pirulito.

A surfar e dançar em

http://www.djdolores.com/blog.html

Agarra que é tua, revisor (parte tudo)

Em época de festival futeboleiro, aqui vai uma curiosa analogia a propósito da questão do revisor ao melhor estilo "picanha", na óptica do Zé Carioca.

Mais uma vez, é de (in)visibilidade que se fala.

E de seleccionáveis, é claro. Senão, façamos um breve exercício, tipo sondagem de opinião. Se o revisor é como um guarda-redes, qual destes escolheria para defender as redes da sua tradução

Ricardo - o-frangueiro-sem-luvas
Baía - o esquecido-recém-promovido-autor-de-contos-infantis
Quim - o mal-amado-futuro-ex
Moreira - o-desejado-sebastiânico
Paulo Santos - o-qualquer-coisa-e-tal-reserva-moral
Bruno Alves - quem-tramou-o-coiso-da-esperança

Aceitam-se sugestões acerca de outros eventuais frangueiros...

Para ler
http://www.translationdirectory.com/article1056portuguese.htm

ou

http://www.translationdirectory.com/article1056.htm

Monday, June 26, 2006

Alerta: Referência - Está (quase) tudo lá!!!



The Greek Translation Vortal

Um Vortal de reverência para fradutores avlitos e áfidos de invormação sobre os seus avazeres provissionais ligados ao mundo da fradução (para ler como o nosso amigo pirata do Aftxérix)

http://www.translatum.gr/

Para refrescar e literariar

Às vezes, quando quero tomar um refresco e arejar as ideias, vou tomar um copo ali ao blogue do meu amigo JPS (John Player Special) e do vhm para saber como andam as coisas lá para os lados DaLiteratura em http://daliteratura.blogspot.com/
Sobretudo os nossos mais recentes"Sobressaltos" beckettianos com direito a repasto mirandês preparatório (será da Gomes Teixeira?), e quejandos.
De fazer crescer água na boca.

Uma espécie de consultório sentimento-profissional da tradução

De fazer inveja ao famoso Dr. Phil da Sic Mulher.
A cebola ficou pelada e transformou-se em coluna de aconselhamento profissional.
Os actores são de peso, experientes, amigos, simpáticos e sempre prontos a ouvir os nossos problemas. No final, há sempre uma palavra de consolo e um conselho sábio.
Sabemos que os nossos dramas e angústias são partilhados por outros, no fundo, tão iguais a nós.
E, para além disso, o bom humor e a vivacidade da metáfora mantêm-se: a formiguinha e a abelha (obreira).
Cigarra não entra (como diria a turma da Mónica)

Ora digam lá, se não dava uma boa história infantil.

Porque é disto que somos feitos.

A não perder em
http://accurapid.com/journal/30fawb.htm

E por falar em melhores práticas...

Por que não uma cebola com muitas camadas, para nos entretermos a descascar nos tempos de ócio.
Chris Durban dá o mote no Translation Journal em
http://accurapid.com/journal/02onion.htm

e continua em
http://accurapid.com/journal/03onion.htm

Sugestão do chefe - Boozoo Bajou



Prato do dia (sugestão para usar e abusar em viagem, trabalho ou repouso):

O novo disco dos Boozoo Bajou - Dust My Broom, um dos melhores do ano que passou.

Aconselho, em especial, o magnífico Take it slow (a fazer lembrar algumas coisas dos Massive Attack de "Blue Lines") e, sobretudo, a alucinação bombástica de Killer.

Profissão e Mercado (2º andamento)

Mais um contributo importante sobre o conceito de "best practice" aplicado à tradução, da autoria de Ann C. Sherwin. Para uma maior consciência da profissionalização em exercício.

Buzzword or Bonanza?
A Translator Reflects on Best Practice

disponível em
http://www.translationdirectory.com/article1065.htm

Profissão e Mercado (1º andamento)

Um artigo engraçado, da autoria do colega Fabiano Cid, numa área cada vez mais interessante. Gosto especialmente desta adaptação do "Seven" aplicada à tradução. Para bom entendedor,... ou para quem sirva a carapuça...

Agencies are from Mars, Translators are from Venus

disponível em
http://www.translationdirectory.com/article980.htm

ou

http://www.translationdirectory.com/article980portuguese.htm


Já agora, a resposta de Claudia Moreira, em http://www.translationdirectory.com/article1028.htm


Agencies are from Mars, Translators are from Venus II:
The Revenge of the Venusians


Always read good articles...

Álbum de recordações

O destino tem coisas destas e, às vezes, prega-nos algumas partidas inesperadas. A memória e a saudade encarregam-se do resto, num turbilhão de sensações indescritíveis. Um imprevisto novo cada dia, uma folha que se desprende do álbum da memória, a chave que abre o baú das emoções...
Bem haja aos amigos quem têm a paciência, o engenho e a arte de fixar estes momentos num álbum blogográfico de recordações de uma geração (essa sim) de ouro.
Obrigado pela companhia e pelas recordações da ESV (actual ESDJGFA, acho que é assim).

Para ver e chorar por mais em

http://bananakillers.blogspot.com/

Monday, May 01, 2006

Notícia de última hora: O coiso que me tirou do sério

A sério, verdade, verdadinha...
Andava eu a surfar pela cibergaláxia quando, de repente, dou com o sítio do coiso, uma coisa "espantástica" que me desperta velhas memórias do tal programa de culto que fazia maravilhas à alma e ao espírito. Desde então, não passo sem a minha dose diária de "Pão com manteiga". Para saborear e chorar por mais em
http://www.coiso.net/velhocoiso/

Saturday, February 11, 2006

Hoje apetece-me ouvir...

Hoje apetece-me ouvir Frequency, uma recente (e interessante) descoberta em

http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=42533238


(Não sei porquê lembra-me os saudosos Hugo Largo ou os Young Marble Giants)

Friday, February 10, 2006

Lost in translation (a poem by James Merrill)

Lost in Translation
for Richard Howard


Diese Tage, die leer dir scheinen
und wertlos für das All,
haben Wurzeln zwischen den Steinen
und trinken dort überall.



A card table in the library stands ready
To receive the puzzle which keeps never coming.
Daylight shines in or lamplight down
Upon the tense oasis of green felt.
Full of unfulfillment, life goes on,
Mirage arisen from time's trickling sands
Or fallen piecemeal into place:
German lesson, picnic, see-saw, walk
With the collie who "did everything but talk"—
Sour windfalls of the orchard back of us.
A summer without parents is the puzzle,
Or should be. But the boy, day after day,
Writes in his Line-a-Day No puzzle.

He's in love, at least. His French Mademoiselle,
In real life a widow since Verdun,
Is stout, plain, carrot-haired, devout.
She prays for him, as does a curé in Alsace,
Sews costumes for his marionettes,
Helps him to keep behind the scene
Whose sidelit goosegirl, speaking with his voice,
Plays Guinevere as well as Gunmoll Jean.
Or else at bedtime in his tight embrace
Tells him her own French hopes, her German fears,
Her—but what more is there to tell?
Having known grief and hardship, Mademoiselle
Knows little more. Her languages. Her place.
Noon coffee. Mail. The watch that also waited
Pinned to her heart, poor gold, throws up its hands—
No puzzle! Steaming bitterness
Her sugars draw pops back into his mouth, translated:
"Patience, chéri. Geduld, mein Schatz."
(Thus, reading Valéry the other evening
And seeming to recall a Rilke version of "Palme,"
That sunlit paradigm whereby the tree
Taps a sweet wellspring of authority,
The hour came back. Patience dans l'azur.
Geduld im. . . Himmelblau? Mademoiselle.)

Out of the blue, as promised, of a New York
Puzzle-rental shop the puzzle comes—
A superior one, containing a thousand hand-sawn,
Sandal-scented pieces. Many take
Shapes known already—the craftsman's repertoire
Nice in its limitation—from other puzzles:
Witch on broomstick, ostrich, hourglass,
Even (surely not just in retrospect)
An inchling, innocently branching palm.
These can be put aside, made stories of
While Mademoiselle spreads out the rest face-up,
Herself excited as a child; or questioned
Like incoherent faces in a crowd,
Each with its scrap of highly colored
Evidence the Law must piece together.
Sky-blue ostrich? Likely story.
Mauve of the witch's cloak white, severed fingers
Pluck? Detain her. The plot thickens
As all at once two pieces interlock.

Mademoiselle does borders— (Not so fast.
A London dusk, December last.
Chatter silenced in the library
This grown man reenters, wearing grey.
A medium. All except him have seen
Panel slid back, recess explored,
An object at once unique and common
Displayed, planted in a plain tole
Casket the subject now considers
Through shut eyes, saying in effect:
"Even as voices reach me vaguely
A dry saw-shriek drowns them out,
Some loud machinery— a lumber mill?
Far uphill in the fir forest
Trees tower, tense with shock,
Groaning and cracking as they crash groundward.
But hidden here is a freak fragment
Of a pattern complex in appearance only.
What it seems to show is superficial
Next to that long-term lamination
Of hazard and craft, the karma that has
Made it matter in the first place.
Plywood. Piece of a puzzle." Applause
Acknowledged by an opening of lids
Upon the thing itself. A sudden dread—
But to go back. All this lay years ahead.)

Mademoiselle does borders. Straight-edge pieces
Align themselves with earth or sky
In twos and threes, naive cosmogonists
Whose views clash. Nomad inlanders meanwhile
Begin to cluster where the totem
Of a certain vibrant egg-yolk yellow
Or pelt of what emerging animal
Acts on the straggler like a trumpet call
To form a more sophisticated unit.
By suppertime two ragged wooden clouds
Have formed. In one, a Sheik with beard
And flashing sword hilt (he is all but finished)
Steps forward on a tiger skin. A piece
Snaps shut, and fangs gnash out at us!
In the second cloud—they gaze from cloud to cloud
With marked if undecipherable feeling—
Most of a dark-eyed woman veiled in mauve
Is being helped down from her camel (kneeling)
By a small backward-looking slave or page-boy
(Her son, thinks Mademoiselle mistakenly)
Whose feet have not been found. But lucky finds
In the last minutes before bed
Anchor both factions to the scene's limits
And, by so doing, orient
Them eye to eye across the green abyss.
The yellow promises, oh bliss,
To be in time a sumptuous tent.

Puzzle begun I write in the day's space,
Then, while she bathes, peek at Mademoiselle's
Page to the curé: ". . . cette innocente mère,
Ce pauvre enfant, que deviendront-ils?"
Her azure script is curlicued like pieces
Of the puzzle she will be telling him about.
(Fearful incuriosity of childhood!
"Tu as l'accent allemande" said Dominique.
Indeed. Mademoiselle was only French by marriage.
Child of an English mother, a remote
Descendant of the great explorer Speke,
And Prussian father. No one knew. I heard it
Long afterwards from her nephew, a UN
Interpreter. His matter-of-fact account
Touched old strings. My poor Mademoiselle,
With 1939 about to shake
This world where "each was the enemy, each the friend"
To its foundations, kept, though signed in blood,
Her peace a shameful secret to the end.)
"Schlaf wohl, chéri." Her kiss. Her thumb
Crossing my brow against the dreams to come.

This World that shifts like sand, its unforeseen
Consolidations and elate routine,
Whose Potentate had lacked a retinue?
Lo! it assembles on the shrinking Green.

Gunmetal-skinned or pale, all plumes and scars,
Of Vassalage the noblest avatars—
The very coffee-bearer in his vair
Vest is a swart Highness, next to ours.

Kef easing Boredom, and iced syrups, thirst,
In guessed-at glooms old wives who know the worst
Outsweat that virile fiction of the New:
"Insh'Allah, he will tire—" "—or kill her first!"

(Hardly a proper subject for the Home,
Work of—dear Richard, I shall let you comb
Archives and learned journals for his name—
A minor lion attending on Gérôme.)

While, thick as Thebes whose presently complete
Gates close behind them, Houri and Afreet
Both claim the Page. He wonders whom to serve,
And what his duties are, and where his feet,

And if we'll find, as some before us did,
That piece of Distance deep in which lies hid
Your tiny apex sugary with sun,
Eternal Triangle, Great Pyramid!

Then Sky alone is left, a hundred blue
Fragments in revolution, with no clue
To where a Niche will open. Quite a task,
Putting together Heaven, yet we do.

It's done. Here under the table all along
Were those missing feet. It's done.

The dog's tail thumping. Mademoiselle sketching
Costumes for a coming harem drama
To star the goosegirl. All too soon the swift
Dismantling. Lifted by two corners,
The puzzle hung together—and did not.
Irresistibly a populace
Unstitched of its attachments, rattled down.
Power went to pieces as the witch
Slithered easily from Virtue's gown.
The blue held out for time, but crumbled, too.
The city had long fallen, and the tent,
A separating sauce mousseline,
Been swept away. Remained the green
On which the grown-ups gambled. A green dusk.
First lightning bugs. Last glow of west
Green in the false eyes of (coincidence)
Our mangy tiger safe on his bared hearth.

Before the puzzle was boxed and readdressed
To the puzzle shop in the mid-Sixties,
Something tells me that one piece contrived
To stay in the boy's pocket. How do I know?
I know because so many later puzzles
Had missing pieces—Maggie Teyte's high notes
Gone at the war's end, end of the vogue for collies,
A house torn down; and hadn't Mademoiselle
Kept back her pitiful bit of truth as well?
I've spent the last days, furthermore,
Ransacking Athens for that translation of "Palme."
Neither the Goethehaus nor the National Library
Seems able to unearth it. Yet I can't
Just be imagining. I've seen it. Know
How much of the sun-ripe original
Felicity Rilke made himself forego
(Who loved French words—verger, mûr, parfumer)
In order to render its underlying sense.
Know already in that tongue of his
What Pains, what monolithic Truths
Shadow stanza to stanza's symmetrical
Rhyme-rutted pavement. Know that ground plan left
Sublime and barren, where the warm Romance
Stone by stone faded, cooled; the fluted nouns
Made taller, lonelier than life
By leaf-carved capitals in the afterglow.
The owlet umlaut peeps and hoots
Above the open vowel. And after rain
A deep reverberation fills with stars.

Lost, is it, buried? One more missing piece?

But nothing's lost. Or else: all is translation
And every bit of us is lost in it
(Or found—I wander through the ruin of S
Now and then, wondering at the peacefulness)
And in that loss a self-effacing tree,
Color of context, imperceptibly
Rustling with its angel, turns the waste
To shade and fiber, milk and memory.



James Merrill

Monday, February 06, 2006

Esta horrível mania de dizer mal de tudo

Vou ser sincero. Detesto críticas e maledicências. Detesto a má-língua e o cinismo. Irrita-me o habitual dizer mal pelo prazer de estar do contra. Tão nacional e tão parcial. Detesto essa rede de censores encapotados que, de caneta ou lápis em riste, logo começam à procura do erro fácil, da gralha e da asneira, mal abrem um livro, um manual ou um jornal. Detesto o excesso de zelo de alguns amanuenses de segunda, obcecados com essa caça à multa doentia e estéril, anotando e classificando resmas e pilhas de erros. Preocupa-me o efeito a la “big brother” de tudo ver e tudo controlar que assola o mundo da tradução. Detesto esses abutres cobardes que dilaceram o texto e se refastelam com o azar alheio, disputando as migalhas como despojos de guerra. Irrita-me a forma vil e repugnante como troçam da incompetência alheia e se comprazem perante os seus infortúnios. E choca-me a forma despudorada como comentam a desgraça alheia no alto da sua cátedra. Irrita-me a hipocrisia e a desresponsabilização. Track changes, view changes, accept changes, reject change e delete comment. Track changes, view changes, accept changes, reject change e delete comment. E vice-versa, num vício aberto e descontrolado. E odeio, sobretudo, as tricas, as trocas, as baldrocas e as intrigas do mundo da tradução. Detesto abrir o jornal e, de imediato, ler críticas negativas acerca do trabalho dos meus colegas. Irrita-me a Internet vomitando sites e mais sites cheios de listas tipo best off ou top ten dos erros mais comuns e risíveis. Detesto o bota-abaixo tradicional de quem lê uma legenda de um filme e logo aponta, de dedo em riste, qual mestre-escola, que fulano de tal meteu água aqui e ali, que sicrano traduziu isto, quando devia traduzir aquilo, que beltrano é um ignorante e uma besta quadrada só porque omitiu aquela importantíssima referência cultural. Espírito queixinhas este, responsável pela realização de verdadeiros autos de fé encenados para fascínio da santa nação imaculada. Mentalidade tacanha esta, herdeira de práticas pedagógicas de antanho, onde os incompetentes e os nabos eram colocados no fundo da sala, ou frente à turma, de orelhas de burro na cabeça, para gáudio de todos. A galhofa habitual, a troça do costume. Detesto a falta de humildade, a falta de cumplicidade e a falta de escrúpulos de alguns. Irrita-me a concorrência desleal e a falta de solidariedade. Preocupa-me a falta de espírito corporativo e a ausência de honestidade intelectual no ajuizar do próximo. Preocupa-me a falta de entreajuda e o isolamento a que os tradutores são diariamente votados pelo público em geral e, sobretudo, pelos seus pares. Mas onde está a tolerância e o bom senso?
Detesto os pequenos prazeres mesquinhos de dizer mal do próximo e essa incómoda mania de criticar pelo simples desejo de criticar, como se fosse um hobby nacional. Ah, como eu adoro estes amigos do alheio, cujo seu único e exclusivo limite é o próprio umbigo. Pressinto bem o que os move. A obsessão de dizer coisas da boca para fora, só para não ficar calado. Como dizia uma prima minha “Ó menino, quando estás calado, tu pareces mesmo um doutor.”
Mas porque não se calam. Mas porque insistem em falar daquilo que não sabem. Mas, se calhar, o problema é que sabem. E bem…

Pequeno comentário acessório ao exposto, para que conste nos registos: Compreendo tudo isso e, de certa forma, até percebo o seu alcance e utilidade. Também eu cometi os meus desleixos e também eu fiz as minhas críticas. Ou seja, também eu fui dos que atirei a minha pedra. E também eu fui daqueles que apanhei com a dita pedra, mais ou menos a modo de ricochete politicamente (in)correcto. Por isso, sou o primeiro a dar a mão à palmatória. Mas o que é de mais é moléstia. E, para além disso, já é tempo de crescer e de ocupar a mente com outras coisas.
Ora vejamos.
Errar é humano. Primeira verdade de La Palisse.
Os tradutores são humanos (pelo menos, para já, e esperemos por muitos e longos anos). Segunda verdade de La Palisse
Logo, por exclusão de partes… (para bom entendedor…)
Todos sabemos que a tradução é uma das profissões mais expostas e vulneráveis do mundo. Sabemos, porque nos confrontamos diariamente com o produto do nosso próprio trabalho. Sabemos, porque, através da tradução, nos deparamos constantemente com a nossa própria insatisfação pessoal, como humanos que somos e seres falíveis que seremos. Estamos condenados a isso, e é esse o nosso desígnio. Sabemos, porque estamos constantemente em fluxo e em trânsito entre espaços e momentos, a trabalhar na corda-bamba. Sabemos, porque, no fundo, somos artistas de um número de equilibrismo, trabalhando num trapézio sem rede, onde a queda pode ser (e é) fatal. Sabemos, porque somos obrigados a trabalhar sob pressão, cedendo a interesses externos que não são os nossos. Sabemos, porque estamos habituados a dar prioridade aos nossos clientes, anulando-nos como indivíduos e fazendo concessões atrás de concessões. Sabemos, porque somos escravos do nosso trabalho. Sabemos, porque vamos perdendo a nossa identidade. Sabemos, porque não temos horas, nem prazos, nem fins-de-semana, nem vida própria. A vida para nós é uma sucessão de dias, semanas e meses que se atropelam em catadupa, numa espiral de compromissos e tarefas infindáveis. Sabemos, porque estamos a ficar cada vez mais mecanizados, informatizados, rotinizados, globalizados, desumanizados. Enfim, cansados. Sabemos, porque estamos a ficar viciados no erro e porque identificamos o erro, sim senhor, mas não a causa desse erro. Sabemos, porque o erro entra na nossa vida como uma migalha numa engrenagem, e logo paramos, em avaria técnica. Sabemos, porque nos apercebemos do erro, mas nem sempre o sabemos classificar, catalogar, descrever e, por isso, somos incapazes de o corrigir adequadamente. Sabemos, porque vivemos e respiramos tradução. O nosso corpo é tradução e os contornos da nossa vida confundem-se com os limites do próprio texto. Sabemos, porque a língua é fraca e volátil e volúvel e traiçoeira como o canto da sereia. Sabemos, porque o perigo e o risco nos atraem. Sabemos, porque a viagem é perigosa e turbulenta. Sabemos, porque navegamos as águas agitadas da inconstância e incerteza e porque estamos habituados a lutar contra tudo e todos, transformando a nossa fraquezas em forças de resistência. Sabemos, porque, às vezes, vagueamos às escuras, tacteando sentidos com as nossas mãos, perdidos num qualquer labirinto. Sabemos, porque viajamos ao sabor das marés, contra ventos e tempestades, tantas vezes à deriva, em busca de um porto de abrigo tão distante e às vezes tão próximo, e tantas vezes cruel ou enganador.
Sabemos, porque não somos reconhecidos enquanto profissão. Sabemos, porque não nos conseguimos definir como profissionais de pleno direito. Sabemos, porque não temos direitos, apenas deveres e obrigações. Sabemos, porque somos cidadãos anónimos, empurrados para este ofício pelas contingências do destino e pelo espartilho burocrático que nos empurra para a periferia. Sabemos, porque estamos constantemente em bicos de pés, acenando para que nos vejam.
E, no entanto, são os nossos irmãos que nos apunhalam, que nos denunciam e que mais nos expõem.
Triste sina esta, convenhamos.
Já era tempo de reflectirmos um pouco sobre o nosso papel na sociedade. Já era tempo de crescermos e assumirmos alguma maturidade e consistência profissional. Já era tempo, no fundo, de fazermos uma profunda auto-reflexão e auto-crítica sobre o nosso posicionamento nesta actividade tão nobre e complexa. Onde estamos? O que somos? Para onde vamos?
E com isto termino.
(Desculpem-me, mas estava mesmo a precisar de desabafar…)

Contradu�es: Resposta a question�rio DaLiteratura

Contradu�es: Resposta a question�rio DaLiteratura

Thursday, January 12, 2006

Resposta a questionário DaLiteratura

Questionário

Um daqueles amigos raros com maiúscula e sem reticências, mas sempre disponível com um parágrafo–travessão sincero lançou-me, via blogosfera, este repto sobre as minhas preferências livrescas que, desde já, aceito com todo o prazer, embora a desoras (como o coelho da Alice).

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Dentro da minha tradi(u)ção anglófona escolheria, de imediato, e sem pensar muito, uma das tragédias de Shakespeare (“Hamlet”, por exemplo), mais dois “clássicos” (não contando com o clássico dos clássicos, o Magnum da Olá, delicioso a qualquer hora e a qualquer lugar), a saber: o “Ulisses” do Joyce e “The Wasteland” do Eliot. Naturalmente, é claro, com “arroz do mesmo”, ou seja, acompanhados pelas respectivas traduções, e por ordem de entrada em cena, António Feijó, João Palma-Ferreira e Gualter Cunha. Porque, tal como tantas vezes disse a propósito de outros assuntos mais prosaicos, está (quase) tudo lá. E porque tantas vezes me socorro desses excertos à deriva, tão verdadeiros, quanto actuais, nestes tempos de desassossego que nos corroem a alma e cansam o espírito: “These fragments I have shored against my ruins.” Ou ainda "Life is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing."

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?

Depende. As minhas afinidades mudam conforme os tempos, os contextos e os humores. Tal como o J.P., identificava-me bastante com as personagens dos livros da minha infância e juventude. Comecei por gostar do Noddy pela sua inocência e ingenuidade. Confesso que ainda hoje releio com prazer esses livros à minha filha. Gostava muito do David e do Júlio d’”Os Cinco”, porque me transmitiam uma sensação de maturidade precoce noutros tempos de saudável inconsciência. Nessa vasta rede de cumplicidades mais adultas integraria ainda o já falado comissário Maigret e o incomparável senhor Hulot. Ou ainda o grande Peter Sellers, com ou sem pantera-cor-de-rosa. Na minha galeria de memorabilia há também um lugar especial para o inspector Harry Callahan, o 007 e “last, but not least” esse magnífico John Wayne, pugilista reformado em ”O Americano Tranquilo”. Ultimamente, mas por outras razões, fiquei rendido às aventuras e desventuras do pobre Eneas McNulty, protagonista do romance “As Atribulações de Eneas McNulty”, da autoria de Sebastian Barry.


3. Qual foi o último livro que compraste?

Para além daqueles enfadonhos livros técnicos que utilizo, por necessidade, para a minha investigação, docência e/ou prática profissional (noblesse oblige), o último livro “desinteressado” que comprei tem o título bastante original (pelo menos, para mim) de “A Tradução” e é da autoria de Pablo de Santis (colecção Pequenos Prazeres, ASA). Sob a forma de um policial, trata-se, na sua essência, de uma pequena e curiosa reflexão metafórica sobre a tradução e a interpretação em geral. Leve e descomprometido, portanto.

4. Qual o último livro que leste?

Por prazer ou por necessidade/contingências profissionais? Ultimamente, os livros que leio são aqueles que traduzo e/ou revejo por obrigação, e com os quais me identifico e envolvo até ao limite das minhas forças. Esgotam-me, despertam-me sensações ambíguas, tipo amor-ódio, e por isso estabeleço fortes laços afectivos com todos eles. O último, por exemplo, é um romance histórico/policial centrado na figura de um faraó egípcio.
Satisfeito, satisfeito, fiquei com a leitura de um brilhante ensaio sobre o papel da tradução num contexto global, da autoria de um dos meus académicos favoritos, Michael Cronin. Chama-se “Translation and Globalization” e aconselho-o vivamente a todos os interessados nestas matérias.

5. Que livros estás a ler?

Pois, ando a ler muitas coisas ao mesmo tempo, como sempre. Trabalhos, textos académicos, artigos científicos e monografias. E, para além disso, o tal livrinho da ASA sobre a tradução, as Memórias de Adriano da Yourcenar, e os poemas da Ana Luísa Amaral, sempre presentes na minha biblioteca de abrigo. Não esquecendo, é claro, uma banda desenhada (Tintin ou Astérix) ao deitar para descongestionar as meninges.


6. Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

Pois, isso depende. Se estivesse a traduzir ou a rever algo, levaria o inevitável portátil e rezaria a todos os santinhos para que a bateria acabasse (o que, tendo em conta o equipamento que tenho entre mãos, seria coisa para demorar aí uns 2 minutos). Tirando isso, era capaz de levar aqueles livros que fazem parte da minha lista de obras a ler, mas que, como nunca tenho tempo, ficam sempre adiadas sine die para outras calendas, e que, por isso mesmo, integram essa longa listagem de resoluções para qualquer ano novo. À procura, quem sabe, de outros tempos mais tranquilos, espécie de conta-poupança-reforma-literária pessoal e intransmissível para a minha aposentação. O primeiro de todos seria, ironia das ironias, o Robinson Crusoe”, "for the fun of the thing". Levaria também a Odisseia de Homero, o Ulisses do Joyce e “À procura do tempo perdido” do Proust. E levaria também esse pequeno guia de sobrevivência “Around the world in 80 days”, da autoria de Michael Palin ou a autobiografia recém editada dos Monty Python, “The Pythons' Autobiography By The Pythons”. E, já agora, não me poderia esquecer dos dois volumes que retratam e fixam no papel essa saudosa e inimitável experiência radiofónica do “Pãocomanteiga” (exemplares que, entretanto, me foram surripiados nos idos de 80 por mãos amigas). E ainda a mais recente colectânea de poemas da Ana Luísa Amaral, “Poesia Reunida”, para me lembrar da simplicidade das pequenas coisas que se vai perdendo por aí. E por me obrigar a reeducar os sentidos.
(Sim, já sei que são mais de cinco, mas a dificuldade está na escolha).

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Gostava mesmo de contar com a cumplicidade e a opinião sincera e amiga da AGM, da AMC e do RCH.

Tuesday, January 03, 2006

Maldita língua que me turva o sentido

Pois é. Bloga que se faz tarde.
Ano novo, velhas manias. Tradição, tradução e, sobretudo, revisão, cada vez mais revisão. Os meus dias são um processo de revisão constante. A lápis, caneta, marcador ou em ambiente multimedia hiperventilado por um CPU ofegante. Revisão dos outros, revisão desse outro que se esconde no texto, numa reescrita constante. Track changes, detectar e registar alterações e comentar, anotar, pormenorizar, detalhar e classificar. Tudo com um olho clínico, para o qual não fui treinado, mas que cada vez me incomoda mais... Para o bem e para o mal, até que essa coisa nos separe. No bom sentido, é claro, espécie de "all seeing eye", omnipotente e omnipresente que me impele rumo a essa ânsia de tudo dissecar.
(Engraçado, mas nunca de mim... Essa revisão, entenda-se). Às vezes, (agora, por exemplo)apetecia-me era deitar-me no meu divã e rever-me a mim próprio, egoísta, reescrevendo-me e redescobrindo ou fixando as minhas trajectórias (ou os meus escritos, entenda-se, a propósito). No fundo, vendo-me do outro lado, ou então do mesmo lado, ou ainda do lado de cá, como se queira, sem efeitos, nem trejeitos. E, sobretudo, sem preconceitos.
Ah, e sempre esta necessidade de tudo perpetuar, prolongar o dito e o escrito, numa luta constante contra o esquecimento. Não esquecer: Pôr a escrita em dia. Com rigor, precisão e minúcia. Por isso, escreve, unifica, concretiza as tuas ideias, revisor amigo. Vê se dás uma nova sintaxe à tua vida. "Hammer your thoughts into unity", dizia o outro e com razão. Bate, rebate, martela, cinzela, burila e, sobretudo, parte, desfaz essa pedra em bruto (e às vezes tão bruta) que tu encontras pelo caminho. Eis chegado o momento de solidificar e concretizar. Criar a partir do nada. Ou, melhor dizendo, criar a partir de fragmentos aparentemente autónomos, ligados entre si por um ténue fio vital, fiel e condutor.. Por isso, tonifica e constrói de novo, a partir dos despojos e resíduos do teu ser (sólidos, sob a forma de palavras e de uma sintaxe quebrada), mas também emocionais, mentais, intelectuais e conceptuais, reconstruindo-te a ti próprio, mergulhado nessa manta de retalhos de emoções e sensações que cada novo texto desperta em ti.
Trabalho hercúleo esse de rever. A revisão é, para mim, uma das mais nobres artes e tambem uma das menos exploradas neste imenso processo a que damos o nome de tradução. E, por isso, também uma das mais esquecidas e negligenciadas. Razão tinha o Pedro Mexia nas suas habituais crónicas na Grande Reportagem.
Isto porque a revisão é também uma outra visão, ou uma nova visão: re-visão. E é assim que revisito os espaços e os momentos do outro, desse tradutor que me antecedeu. Mas também os seus escritos, já não a duas, mas sim a quatro ou a seis mãos. Ui, e às vezes são tantos. "Todos ao burro e o burro no chão", como diz o povo. Eu, revisor, ele, tradutor, e o autor, que grita e e gesticula, mortinho por chegar a casa. Ou a um porto seguro. Ou quem sabe, tão só, fazer-se entender. Comungar e partilhar do mesmo sentido e das mesmas ideias. Será assim tão difícil? "Entendam-me", grita ele desesperado, gesticulando do outro lado da página. São tantos os sentidos que se acumulam. É tanta a imensidão de referências e referentes. E as palavras que não ajudam. Às vezes, só parecem estorvar. E a língua que tudo complica. Sintaxe pesada, resistente, barroca, que se dobra e desdobra. Lixo? Desleixo? Estilo? Há tantas coisas que se escondem por detrás dos sinais mais óbvios. E, às vezes, as rectas que percorro para chegar a ti, já são curvas, turvas de sentido, sinuosas e frágeis, numa rota ébria que, inexplicavelmente, se desviou do seu destino por mãos pouco cuidadosas. Palavras tresmalhadas e sintaxe transviada. Trapalhadas e alhadas em que o revisor se mete. Difícil tarefa essa de emendar aquilo que já nasceu torto. Não por obra do autor, é claro (mas às vezes, e sobretudo dele). Velhas questões essas sobre o mau original e a boa ou má tradução. Sim, porque há outra vida para além da chamada tradução literária. E há outra vida para além da literatura. Essa é uma das minhas vidas, esse é um dos meios e meandros por onde me perco e onde tantas vezes me encontro com a satisfação única de um renascer. Prazer supremo de descobrir a simplicidade de um pensamento ou acção nas palavras dos outros e dizê-lo com toda a energia e vigor na minha própria língua, pelas minhas próprias palavras e, assim, cunhar uma ideia, sentido, emoção no espírito dos meus leitores...