O Paulo era uma das pessoas mais fascinantes que conheci.
Amável, generoso, vivo e intectualmente brilhante, era um académico ímpar, um tradutor exemplar e um colega cúmplice e sempre presente, que nos saudava com aquele seu pestanejar tão característico...
Com ele, aprendi a ver teatro através dos olhos e das palavras do Tradutor, deixando-me guiar pela sua mão serena, pelo seu verbo fluente e pelo seu léxico perfeito.
Uma sublime e forte diccção.
E foi também, graças a ele, que o posicionamento e o estatuto social do Tradutor cresceu no meio das artes e letras nacionais e internacionais, consolidando a sua reputação no espaço público.
Era reconhecido e respeitado no meio e, portanto, uma referência cultural incontornável.
De tal forma, que, ultimamente, eu próprio já não ia ao teatro para ver uma peça de Friel, Pinter ou Murphy, mas antes para assistir à Tradução (ou, melhor dizendo, à Celebração) do Paulo.
Conheci-o quando Seamus Heaney esteve na FLUP pela primeira vez e com ele estabeleci uma afinidade que ultrapassava o mero espaço/imaginário irlandês, e que se prolongava, obviamente, nessa cumplicidade e sensibilidade atentas que a tradução tantas vezes convoca.
E, de repente, esta manhã, isto.
Dele recordo vários momentos, com saudade.
Sobretudo a última entrevista que me concedeu, para o meu doutoramento, na qual, ao longo de uma hora e meia, falou de si, da sua obra e da forma como encarava esse acto solitário, voluntário e generoso que é a tradução. Um génio absoluto.
E, em especial, quando, no final, ao despedir-se, me entregou o seu livro (que teria honras de apresentação pública dali a dias), autografado, dizendo-me baixinho "Toma, ofereço-te este livro, mas tem cuidado, e vê se o escondes na mala, porque tenho poucos, e ainda não ofereci um exemplar ao A e B".
A vida não será a mesma sem ele.
Fica a obra, a memória e a palavra.
Adeus, Amigo, até sempre.
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